Achadinho? O barato que sai caro

O termo “achadinho” se popularizou na internet através dos blogs de moda e suas dicas de compras. Hoje, existem também perfis no Instagram com esse foco, ajudando @s seguidor@s a encontrar roupas, acessórios, itens de decoração e outros, pelos preços mais acessíveis do mercado. As ofertas são tentadoras, mas na maioria das vezes, um “barato que sai caro”, e quem sai perdendo é a humanidade. Não é exagero, é consciência, e tem pessoas precisando da sua; da nossa.

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O ato de comprar se tornou automático. Quantas vezes você parou pra pensar pelo quê está pagando, além de quanto? Precisamos ir além! Então vamos lá: dentro do preço final de um produto está embutido uma série de custos, com a matéria primeira, produção, transporte, impostos. Como é possível que esse produto passe por tantas etapas, pague todas as pessoas, dê lucro à grandes empresas e ainda assim seja vendido por um preço tão baixo? A conta não fecha e certamente quem saiu perdendo foi o elo mais fraco dessa cadeia: os trabalhadores.

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Trabalhadores que em muitos casos são submetidos à condições extremas, em locais que colocam em risco a sua segurança e saúde física e mental, e onde muitos moram com suas famílias. Sem regulamentação, recebem salários inversamente proporcionais à jornadas exaustivas de trabalho, análogo ao escravo, que chega à 16 horas por dia! Às vezes, são impedidos até de irem ao banheiro, pra não perderem tempo de produção. Reféns de uma condição subumana, alguns chegam à tentar ou cometer suicídio pela falta de qualidade de vida. Ainda assim, tem gente que defende esse modelo como sendo a alternativa de sobrevivência dessas pessoas, como mostra o documentário The True Cost.

Outros, trabalham em fábricas que oferecem melhores condições, com estrutura moderna e documentação para garantir os direitos trabalhistas… pelo menos na teoria. Mas seguem com baixos salários que incentivam os funcionários a cumprirem horas extras (limite de 48 por mês) para completar a renda, e um regime rigoroso na linha de montagem, porque “cada segundo conta”, diz Big John, presidente da unidade da Pegatron, na China. Empresa onde são montados aparelhos iPhone – vale ressaltar! Porque se há pouco uma empresa com grande importância no mercado está adotado medidas regulares, como será em outras? (Fonte: Exame.com)

E uma das questões é essa! Segundo um relatório publicado em 2014 pela Walk Free Fondation, organização pelos direitos humanos, a China é o segundo país, entre os 10, que mais escraviza no mundo (3,2 milhões de pessoas), junto à Índia (o número 1), onde são cerca de 14,3 milhões. Em seguida, o Paquistão, Uzbequistão, Rússia, Nigéria, Congo, Indonésia, Bangladesh e Tailândia. Como saber sob quais condições de trabalho um produto “Made in China”, por exemplo, foi produzido?

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Podemos buscar por essas respostas acompanhando notícias e aplicativos como o Moda Livre, ainda assim, não teremos informações suficientes porque a ilegalidade se mantém à sombra da clandestinidade. E infelizmente, como essas práticas não estão ao alcance dos nossos olhos como aquela peça de desejo na vitrine, até quem sabe sobre essa realidade se deixa levar, sem se preocupar com a história e origem do produto que está comprando. E sem a consciência de que está, indiretamente, financiando atos que provavelmente não estão de acordo com seus valores e o que deseja para o mundo. Seja o que deseja!

Nem sempre é fácil. As ofertas são muitas e o hábito de compra para atender desejos imediatos está impregnado na nossa cultura, mas é ainda mais difícil para quem é refém desse sistema. Temos um longo caminho a percorrer! A nossa atitude sozinha, não muda o mundo, mas “sonho que se sonha junto, é realidade”, e só ao compreender que nosso poder de compra é um ato político, e reconhecer a força que nossas escolhas tem, começando por influenciar quem está ao redor, podemos impactar essa demanda e transformar esse capitalismo cruel em um capitalismo consciente que gera valor para sociedade, e não que suga dela à todo custo.

É claro que existe uma grande parcela da sociedade, também vítima desse mesmo sistema, que não tem condição de pagar um pouco mais para garantir que uma peça tenha sido proveniente de um modelo de comércio justo, mas se você pode através da sua compra investir na qualidade de vida de alguém, pense nisso. Consumindo de empresas conscientes e incentivando pequenos produtores.

Comece praticando esse exercício de amor e empatia se questionando: Sinto orgulho da roupa que estou vestindo? Por que? E antes de cada compra: Qual a história que essa peça tem pra contar? Qual a energia que foi depositada através de quem a produziu? Energia de satisfação ou de sofrimento? A gente garante: faz muito mais sentido vestir com alma! Ajuda a transformar vidas, inclusive a sua. Faz bem pro look e pro mundo!