Compra social: o futuro das compras

Nos últimos vinte anos, aproximadamente, o tema da responsabilidade ambiental esteve em voga na indústria, mudando processos de fabricação, distribuição e, por fim, a forma como a indústria se relaciona com o mercado. Vários produtos nocivos ao meio ambiente deixaram de ser produzidos (como o CFC, por exemplo) e houve um estímulo ao não consumo de marcas e produtos prejudiciais ao meio ambiente. Hoje, nós testemunhamos – e fazemos parte – um movimento para humanizar as relações de consumo, levantando problemas sociais graves como a fome, a desigualdade social, o difícil acesso à educação e saúde de qualidade, entre vários outros, tornando este, um movimento mais amplo, global e, consequentemente, mais poderoso.

Isso ocorre justamente quando uma nova geração começa a tornar-se mais presente no mercado de trabalho e começa a ter mais participação nas decisões do mundo. Esta nova geração – a qual faço parte – está preocupada em construir legado, em viver propósito e a compartilhar valores. Não por coincidência, o empreendedorismo social cresce com tanta força apoiado nas inovações tecnológicas que nossa própria geração está criando. Este crescimento vem mudando, de maneira definitiva, como negócios e empreendimentos são criados. Hoje, os valores intrínsecos de uma pessoa da atual geração – chamada de Millenials – têm de estar representados e completamente inseridos nos valores do seu empreendimento, do seu negócio e, até mesmo, nos valores das empresas em que eles buscam trabalhar.

– Este é até um dos motivos para o crescimento do empreendedorismo social, pois uma grande parcela de jovens, não encontrando empresas que compartilham de seus valores, decide criar as suas próprias empresas. –

Com isso, os problemas sociais – que cresceram consideravelmente junto com o crescimento desta geração – são o foco de combate, construindo soluções inteligentes para combater esse tipo de problema. Muitos desses jovens empreendedores enxergaram na relação de consumo uma oportunidade para gerar transformação social, evoluindo, de forma disruptiva, o relacionamento de consumidores com empresas e modificando por completo o relacionamento dos mesmos consumidores com os problemas sociais, através de um novo formato e conceito de compras: a compra social.

Duas empresas brasileiras com esse foco foram reconhecidas, em 2016, como iniciativas que vem se destacado por seu modelo de negócios e como ele está alinhado com o objetivo de impactar a sociedade brasileira, recebendo o Prêmio Laureate de empreendedorismo social: Euzaria e Risü.

A Euzaria criou sua própria estrutura e cadeia de relacionamento com fornecedores baseados em valores éticos e justos, apoiando e valorizando produtores locais. Além disso, a Euzaria transforma cada compra em suas lojas em um dia de aula para jovens apoiados pelo Instituto Aliança. Os valores da Euzaria não compreendem apenas o seu modelo de negócios, ele também é estampado em suas T-shirts com alma e demais produtos. Com essa proposta, a Euzaria engaja e inspira pessoas a consumirem produtos que gerem impacto social e contribua para transformar a vida de outras pessoas.

Risu

A Risü criou o conceito o conceito de cashforward (dinheiro pra frente) no Brasil, fazendo o contraponto de empresas de cashback (que entregam parte do dinheiro de volta para o consumidor). Assim, a Risü criou uma plataforma que agrega ONGs de todo o Brasil, uma rede de lojas online parceiras e uma infinidade de benefícios dessas lojas como ofertas exclusivas e cupons de desconto (ex: cupom de desconto Americanas, cupom de desconto Saraiva, cupom de desconto Netshoes). Assim, através da tecnologia criada pela Risü, qualquer pessoa do Brasil pode doar parte do valor de suas compras, em mais de 300 lojas parceiras, para uma ONG à sua escolha sem pagar a mais por isso. O grande propósito da Risü é, através da compra social, transformar a cultura de doação dos brasileiros e, consequentemente, criar uma consciência coletiva em prol da resolução dos problemas sociais no Brasil.

Antigamente, características como preço, prazo de entrega e qualidade do produto eram diferenciais no mercado. Hoje, tais características são obrigação para quem quer manter-se competitivo no mercado e, para aqueles que planejam continuarem no mercado, é cada vez mais crescente o número de pessoas que valorizam o que sua marca está fazendo para contribuir com uma sociedade mais justa e menos desigual.

E não se engane este é um movimento sem volta, pois é um movimento de gerações, onde o propósito fala mais alto do que o preço.

  • Artigo escrito por Lucas Borges – fundador da Risü, consultor de inovação, empreendedorismo social e branding social. Eleito como Jovem Empreendedor Social do Ano, em 2016 pelo Prêmio Laureate e pela International Youth Foundation. É membro Global Shapers, uma iniciativa do World Economic Forum.