Cinema feito em casa. Para o mundo.

Cinema é coletivo. É um conjunto de referências que sempre partem de um lugar. E por que não a casa? Desse espaço de sentimentos e impressões múltiplas se chega a histórias universais. A trajetória de André Novais, 34 anos, mineiro, casa bem com essa orientação. Um dos cineastas brasileiros mais premiados, desde 2010, Novais mantém um ponto de contato comum em todos os seus filmes: sua família, integralmente, ocupa lugar de destaque em suas obras – Maria José Novais (a Dona Zezé), sua mãe, Norberto Novais, seu pai, e Renato Novais, seu irmão.

20190116-01-andre-novais-oliveira-papo-de-cinema-750x423

É trabalho em família, de onde transbordam questões, como otimismo, diferenças sociais, direitos humanos e, sim, gratidão, muita gratidão, em circunstâncias do cotidiano. Destacamos, aqui, três filmes de Novais que, quase sempre, são verdadeiras ficções documentais, todas elas premiadas em importantes festivais do Brasil e do mundo.

“Ela volta na quinta” (2014), seu primeiro longa-metragem, traz um casal de idosos na iminência de uma separação, interpretado pelos seus pais. Estreou nos prestigiados FID Marseille, na França, e 44º Festival de Cinema de Rotterdam, na Holanda, estendendo-se a festivais brasileiros, como Janela Internacional de Cinema(PE) e 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes(MG). No 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, por exemplo, ganhou os prêmios de Melhor Atriz e Ator Coadjuvante.

Já no drama “Quintal”(2015), André conta a história de um casal e seu dia a dia, na periferia, com humor sutil e até um grau de ficção científica. A tela é tomada por cenas de um naturalismo que acolhe e faz bem às vistas de todas as idades. Resultado: além de inúmeros festivais brasileiros, o filme foi selecionado para o maior festival do mundo, depois do Oscar: a 47ª Quinzena dos Realizadores de Cannes – França, que contou com a presença dos pais Maria José Novais de Oliveira, 68, e Norberto Francisco de Oliveira, 63. Em tempo: foi a segunda vez que eles participaram do evento. A primeira foi em 2013, com “Pouco mais de um mês” (que trazia, inclusive, Élida Silpe, sua namorada). O filme ganhou Menção Especial do Júri, na 45ª Quinzena dos Realizadores – Festival de Cannes.

No seu mais recente longa-metragem, “Temporada”(2018), André revela agentes comunitários em visita a residências da cidade de Contagem(MG), sua terra natal,  numa ação de combate à dengue. Uma trama que envolve tanto como uma visita inesperada. A estreia deste segundo longa do diretor foi no grandioso Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça, com indicações a prêmios, como Leopardo de Ouro e Diretor Revelação. Na edição do 51º Festival de Brasília, “Temporada” se consagrou:  levou os prêmios de melhor filme, atriz, ator coadjuvante, fotografia e direção de arte.

Toda essa caminhada, partindo de casa, deixa frutos, mas também saudade. Dona Zezé faleceu em setembro de 2018, pouco antes da premiação de “Temporada”, em Brasília. Mas, como já revelou André, ela será vista ainda em muitos outros filmes brasileiros, para os quais foi convidada.  Seu pai Norberto também já firmou a carreira de ator.  Seu irmão Renato vai aparecer em mais de 20 produções diferentes, além dos seus próprios filmes.

Como resumir essa história? Ah, não é pro mundo que os pais criam os filhos, mas com a porta de casa sempre aberta? Pode entrar. A casa é sua. Ou melhor: o cinema mais perto de você vem de dentro de você. Parabéns, André e família!

Escrito por: Isaac Donato, roteirista e diretor de cinema, é redator da Verbo Comunicação (BA).